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A vez da produção florestal comunitária
A realidade social e econômica acreana passou por profundas transformações nas duas últimas décadas. A ocupação da floresta tropical úmida por novos agentes produtivos, sobretudo aqueles que têm na expansão agropecuária sua mais importante atividade, trouxe um rastro de conseqüências sociais e ambientais ainda não devidamente dimensionados.
Em que pese o possível crescimento econômico que a substituição da floresta pela pecuária possa ter promovido, seguramente, essa ampliação do Produto Interno Bruto (PIB) estadual não paga os custos das externalidades oriundas da degradação social e ambiental dela decorrentes. O inchamento acelerado das áreas urbanas por uma população completamente despreparada para vida produtiva nas cidades, as elevadas taxas de desmatamento e o primitivismo das queimadas, transformaram-se em gargalos sociais, econômicos e ambientais insuperáveis.
Mas uma reação esplêndida surgiu no seio da sociedade acreana. Com uma tradição de lutas e conquistas marcada pela transformação do território acreano em solo brasileiro nos fins do século dezenove, por meio de uma revolução armada que expôs um contingente considerável de “soldados” seringueiros ao confronto, esses mesmos extrativistas demonstraram que ainda não haviam perdido seu senso de organização.
Com líderes que adquiriram reconhecimento internacional como Chico Mendes, os produtores seringueiros reivindicaram seu direito de permanecer na floresta e de produzir de acordo com sua história, manejando todo potencial que o ecossistema florestal podia oferecer. Conseguiram garantir de maneira ousada a destinação de mais de 70% das terras do Acre para a atividade florestal.
Hoje o estado é recordista nacional de participação relativa de áreas protegidas na composição fundiária de seu território. Isso significa que as unidades de conservação existentes, as Terras Indígenas, áreas de preservação permanente e de reserva legal, somadas representam a maior participação relativa territorial que qualquer outra unidade da federação.
Todavia, se o maior desafio da década de 1990 foi a conquista do território para os extrativistas, agora impõe-se um desafio ainda mais complexo: promover atividades produtivas que garantam a manutenção da floresta.
Viabilizar uma economia florestal estruturada no diverso e complexo ecossistema florestal da Amazônia foi o passo seguinte assumido pelos extrativistas acreanos. Uma alternativa que caso dê certo servirá de exemplo para uma população estimada em três milhões de extrativistas existentes em toda região amazônica.
Aproximadamente 300 mil produtores acreanos tiram seu sustento de maneira direta ou indireta do ecossistema florestal. Entenda-se por ecossistema florestal o espaço ocupado por floresta tropical natural, incluindo a rede hidrográfica, nos quais ocorre um complexo dinâmico de comunidades vegetais, animais e de microorganismos e o seu meio inorgânico que interagem como uma unidade funcional (adaptado da Convenção sobre a Diversidade Biológica).
Tornar essa íntima relação produtiva, interessante do ponto de vista comercial, isto é, que gere emprego e renda, e sustentável do ponto de vista ambiental, isto é, que garanta a manutenção infinita do ecossistema objeto de manejo, tem ocupado os técnicos de órgãos públicos e de organizações do terceiro setor atuantes no Acre.
Avanços tecnológicos ocorridos em meados da década de 1990 possibilitaram conceber o arcabouço conceitual do que se chamou de Manejo Florestal de Uso Múltiplo, um conjunto de procedimentos destinados a possibilitar a exploração de um leque variado de produtos e serviços que o ecossistema florestal é capaz de ofertar em uma mesma unidade produtiva ou “colocação”. No entanto a operacionalização dessas alternativas produtivas ainda esbarra em alguns empecilhos, sendo o mais grave a total ausência de tecnologia apropriada.
Tecnologia, por sinal, tem sido apontada como a chave do sucesso dos empreendimentos florestais na Amazônia. Evidente que ainda estamos engatinhando, mas é, igualmente, evidente que o Brasil, e, por conseguinte, o Acre, já avançou muito nesse tema. Ninguém tem tanto cabedal técnico para promover a produção florestal, sobretudo a comunitária, como o Acre. O momento é para se consolidar.
A inclusão da madeira na cesta de produtos extrativistas
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