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A vez da produção florestal comunitária

Ecio Rodrigues & Aurisa Paiva, 01/01/2006

A realidade social e econômica acreana passou por profundas transformações nas duas últimas décadas. A ocupação da floresta tropical úmida por novos agentes produtivos, sobretudo aqueles que têm na expansão agropecuária sua mais importante atividade, trouxe um rastro de conseqüências sociais e ambientais ainda não devidamente dimensionados.

Em que pese o possível crescimento econômico que a substituição da floresta pela pecuária possa ter promovido, seguramente, essa ampliação do Produto Interno Bruto (PIB) estadual não paga os custos das externalidades oriundas da degradação social e ambiental dela decorrentes. O inchamento acelerado das áreas urbanas por uma população completamente despreparada para vida produtiva nas cidades, as elevadas taxas de desmatamento e o primitivismo das queimadas, transformaram-se em gargalos sociais, econômicos e ambientais insuperáveis.

Mas uma reação esplêndida surgiu no seio da sociedade acreana. Com uma tradição de lutas e conquistas marcada pela transformação do território acreano em solo brasileiro nos fins do século dezenove, por meio de uma revolução armada que expôs um contingente considerável de “soldados” seringueiros ao confronto, esses mesmos extrativistas demonstraram que ainda não haviam perdido seu senso de organização.

Com líderes que adquiriram reconhecimento internacional como Chico Mendes, os produtores seringueiros reivindicaram seu direito de permanecer na floresta e de produzir de acordo com sua história, manejando todo potencial que o ecossistema florestal podia oferecer. Conseguiram garantir de maneira ousada a destinação de mais de 70% das terras do Acre para a atividade florestal.

Hoje o estado é recordista nacional de participação relativa de áreas protegidas na composição fundiária de seu território. Isso significa que as unidades de conservação existentes, as Terras Indígenas, áreas de preservação permanente e de reserva legal, somadas representam a maior participação relativa territorial que qualquer outra unidade da federação.

Todavia, se o maior desafio da década de 1990 foi a conquista do território para os extrativistas, agora impõe-se um desafio ainda mais complexo: promover atividades produtivas que garantam a manutenção da floresta.

Viabilizar uma economia florestal estruturada no diverso e complexo ecossistema florestal da Amazônia foi o passo seguinte assumido pelos extrativistas acreanos. Uma alternativa que caso dê certo servirá de exemplo para uma população estimada em três milhões de extrativistas existentes em toda região amazônica.

Aproximadamente 300 mil produtores acreanos tiram seu sustento de maneira direta ou indireta do ecossistema florestal. Entenda-se por ecossistema florestal o espaço ocupado por floresta tropical natural, incluindo a rede hidrográfica, nos quais ocorre um complexo dinâmico de comunidades vegetais, animais e de microorganismos e o seu meio inorgânico que interagem como uma unidade funcional (adaptado da Convenção sobre a Diversidade Biológica).

Tornar essa íntima relação produtiva, interessante do ponto de vista comercial, isto é, que gere emprego e renda, e sustentável do ponto de vista ambiental, isto é, que garanta a manutenção infinita do ecossistema objeto de manejo, tem ocupado os técnicos de órgãos públicos e de organizações do terceiro setor atuantes no Acre.

Avanços tecnológicos ocorridos em meados da década de 1990 possibilitaram conceber o arcabouço conceitual do que se chamou de Manejo Florestal de Uso Múltiplo, um conjunto de procedimentos destinados a possibilitar a exploração de um leque variado de produtos e serviços que o ecossistema florestal é capaz de ofertar em uma mesma unidade produtiva ou “colocação”. No entanto a operacionalização dessas alternativas produtivas ainda esbarra em alguns empecilhos, sendo o mais grave a total ausência de tecnologia apropriada.

Tecnologia, por sinal, tem sido apontada como a chave do sucesso dos empreendimentos florestais na Amazônia. Evidente que ainda estamos engatinhando, mas é, igualmente, evidente que o Brasil, e, por conseguinte, o Acre, já avançou muito nesse tema. Ninguém tem tanto cabedal técnico para promover a produção florestal, sobretudo a comunitária, como o Acre. O momento é para se consolidar.

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A inclusão da madeira na cesta de produtos extrativistas

Uma produção extrativista ancorada no binômio castanha e borracha estava fadada à falência…

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Com a alagação, Acre não queimará em 2010

A lista de incongruências ambientais e florestais acreanas aumenta com facilidade. Sem ser prerrogativa de um agente econômico, ou ator social, ou ainda, autoridade constituída específica, as incongruências são ditas, ou escritas, com muita desenvoltura por todos, sem exceção, ou algum tipo de discriminação…

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Com o Legislativo, Acre não queimará em 2010

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Com piscicultura, Acre não queimará em 2010

O armazenamento de água em açudes só traz resultados positivos. Além do armazenamento por si já se configurar em um regime de uso equilibrado da água, o açude contribui para elevação da umidade relativa e a conseqüente redução dos riscos de incêndios florestais…

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Com sistemas agroflorestais, Acre não queimará em 2010

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Com tecnologia, Acre não queimará em 2010

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Discussões que caducaram e ninguém se deu conta

A discussão acerca dos comprometimentos sociais e ambientais do processo de ocupação da Amazônia ganhou duras críticas no decorrer da década de 1980…

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Em 2010, a queimada estará banida no Acre

Banir é uma expressão forte. Erradicar também. Pois bem, em 2010, a prática da queimada na agropecuária estará banida e erradicada no Acre.

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Em 2010, Acre não queimará

15/01/2006

Em 2010, o Acre não queimará. Isso significa que toda e qualquer queimada será coibida e considerada ilegal. Não se fala das fogueiras maravilhosas das festas tradicionais de meio de ano, mas, sim, das queimadas comumente usadas na produção agropecuária. Significa mais, que temos quase quatro anos para preparar o terreno para que isso ocorra sem convulsões sociais ou outras questões de toda ordem.

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Fundo Nacional de Meio Ambiente vai mudar para melhor

01/01/2006

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Identidade florestal de Assis Brasil

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Um dos principais desafios a serem superados na operacionalização do manejo florestal de uso múltiplo se refere ao elevado grau de organização produtiva requerido…

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O envolvimento da sociedade civil com o manejo florestal, ocorrido de maneira mais expressiva durante a década de 1990, pode ser considerado decisivo tanto na demonstração de que a alternativa florestal era possível…

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Microcrédito florestal e o Nobel da Paz

22/10/2006

São raros os casos nos quais o Prêmio Nobel da Paz é concedido para pessoas ou instituições que atuam fora dos temas da cooperação internacional voltada à promoção da compreensão, caridade e da paz (entendendo paz como ausência de conflitos ou de guerra)…

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Microcrédito florestal para extrativistas

01/01/2006

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É bem provável que nenhuma outra região da Amazônia tenha sido palco de tamanha gama de experiências produtivas, ditas sustentáveis, que a região do Alto Acre, no estado de mesmo nome…

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Em fevereiro de 1988 uma área com 41.000 hectares no Vale do Rio Acre foi transformada na primeira unidade de Reserva Extrativista da Amazônia, denominada de São Luís do Remanso…

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Os dois maiores problemas ambientais da Amazônia são o desmatamento e a irmã deste, a queimada…

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O ambientalismo, desde o seu surgimento, e mais especialmente no início do século XX, debate-se entre o preservacionismo e o conservacionismo.

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Pronaf Florestal para a Amazônia

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Os desafios para se viabilizar uma economia florestal na região amazônica são imensos…

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A história da ocupação social e econômica da Amazônia é repleta de exemplos da estreita relação do produtor, à época chamado de extrativista, com o recurso florestal…

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