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Com piscicultura, Acre não queimará em 2010

Ecio Rodrigues & Aurisa Paiva, 01/01/2006

O armazenamento de água em açudes só traz resultados positivos. Além do armazenamento por si já se configurar em um regime de uso equilibrado da água, o açude contribui para elevação da umidade relativa e a conseqüente redução dos riscos de incêndios florestais.

Quando, em 1998, o mundo ficou estupefato com os incêndios florestais em Roraima – afinal era a primeira vez que a floresta amazônica em pé pegava fogo -, os peritos da Organização das Nações Unidas que visitaram as áreas afetadas logo após a tragédia, deixaram como uma das mais importantes orientações a construção de milhares de açudes, com meio hectare de lâmina de água, a serem distribuídos por todo o estado. Foram construídos mais de três mil açudes desse tipo.

O mundo ficara incrédulo naquela época, pois com a possibilidade concreta da floresta se incendiar e, por outra via, a impossibilidade concreta de se controlar os incêndios, a Amazônia corria um risco novo e de proporções alarmantes. Após sete anos, em 2005, foi a vez da Reserva Extrativista Chico Mendes perder queimados 200 mil hectares de florestas em pé, com um incêndio cuja dinâmica e dimensão são bem mais preocupantes. Afinal, a floresta nessa região é mais úmida e mais fechada que a de Roraima, o que significa que tanto as causas quanto às conseqüências do incêndio foram absurdamente maiores.

Mas os açudes também servem para fornecimento de água para a família e os animais durante o período da seca. Por incrível que pareça, no Acre, no período de julho a setembro, falta água no meio rural. Ano após ano, o produtor se vê apurado com a falta de água.

Não era à toa que quando os técnicos do Centro dos Trabalhadores da Amazônia (CTA) chegavam às propriedades para executarem o projeto SAF & AÇUDES, nos idos de 1995, todos os produtores, sem exceção, ficavam muito animados com a idéia do açude e profundamente decepcionados com a do SAF. Na verdade, o plantio das espécies consorciadas no SAF era condição para ganhar o tão almejado açude. E mais, o açude, desta feita de um hectare de lâmina de água, tinha que atender a demanda de cinco famílias. Todos aceitavam essas condições com alegria, pois o açude compensava o sacrifício.

Todavia, na maioria absoluta das vezes os açudes são construídos com um fim específico: criar peixes. Introduzir os alevinos de tambaqui e curimatã nos açudes, manter a criação com ração, para depois de um ano iniciar a produção de peixes parece ser bem simples. A piscicultura iniciava assim sua fase de consolidação no Acre associada à instalação de Sistemas Agroflorestais.

Atualmente, a iniciativa privada, sobretudo o médio e grande produtor, percebeu a importância da piscicultura na diversificação e ampliação da renda da produção agropecuária. Os resultados econômicos da piscicultura são superiores ao da criação de gado. A presença pública, que já não é tão requerida por esse produtor com maior capacidade de investimento, aproveitou erroneamente o ensejo para deixar que o mercado se organizasse. Dessa maneira, a opção pela piscicultura foi excluída do universo da pequena produção.

Ao se voltar para a piscicultura, o produtor, além de reduzir seu esforço de mão-de-obra na pecuária, também precisa ocupar espaços de pasto para construção dos açudes. A piscicultura diminui o investimento produtivo na pecuária e, o que é ainda melhor, não convive com as queimadas. Pelo contrário, o piscicultor, tal qual o produtor do Sistema Agroflorestal, precisa proteger seu investimento das queimadas. Fogo e fumaça não combinam com açudes e peixes.

A piscicultura, além de melhores resultados financeiros, pois o peixe produz mais proteínas por hectare que o gado e em menor tempo, também favorece o emprego de maior quantidade de trabalhadores e é mais adequada à realidade florestal do Acre.

Por isso, com um amplo e definitivo programa de construção de açudes para piscicultura, em especial na região do Vale do Rio Acre… O Acre não queimará em 2010.

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