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Identidade florestal de Assis Brasil

Ecio Rodrigues & Aurisa Paiva, 01/01/2006

Até bem pouco tempo Assis Brasil era de manga. Para chegar lá era muito difícil e de lá não se ia a canto algum, a única opção era voltar para Brasiléia e por isso era de manga. A conclusão do asfaltamento e da ponte de ligação com Iñapari, no Peru, criou um novo e promissor horizonte para a cidade e para o Acre como um todo.

Evidente que os reflexos dessa ligação rodoviária já pode ser sentido e tende a se agravar com o tempo. A expansão da agricultura e pecuária, sobretudo essa última, não encontrará mais obstáculos para se aproximar do país vizinho. Minimizar os efeitos prejudiciais dessa expansão para o povo daquela região e para seu ecossistema florestal deve ser encarado como prioridade pelos agentes públicos estaduais e municipais.

Tendo a experiência do cluster florestal de Xapuri como referência, uma saída que parece dar certo é o fortalecimento de atividades produtivas relacionadas ao setor florestal. Atividades essas que tenham força econômica para competir com a agropecuária, pela ocupação das terras melhor localizadas. Ocorre que geralmente, como se vê nos demais municípios acreanos, a agropecuária ocupa as margens das rodovias e as atividades de manejo, praticadas ainda no modo extrativista de produção, vão parar lá nos confins. Justamente ali, onde o acesso é ruim e a sensação de abandono se mistura com a de isolamento.

Mas que atividade produtiva poderia fornecer competitividade ao ecossistema florestal de Assis Brasil. Talvez antes de se encontrar resposta para essa pergunta o ideal seria descobrir qual a identidade florestal que o município possui. Para constituição de um cluster florestal, a análise da história econômica da região é o primeiro e decisivo passo.

Mas uma importante iniciativa se deu em 2003, com a destinação de emenda orçamentária, de autoria do Deputado Federal Zico Bronzeado (PT-AC), para construção de uma Fábrica de Artesanatos e Móveis de Escritório de Taboca em Assis Brasil.

Na verdade, deu-se continuidade a um projeto realizado em conjunto pela Prefeitura e pelo Centro Nacional de Populações Tradicionais (CNPT-Ibama). A idéia surgiu da necessidade em se aproveitar de maneira sustentável a imensa área coberta por taboca ali existente.

No primeiro semestre de 2003, um grupo de nove extrativistas, residentes na comunidade do Seringal Icuriã, se deslocou até Brasília para receber dois treinamentos. O primeiro, de 40 horas, foi ministrado pelo pessoal do Projeto Cantoar, da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Brasília (UnB), especialistas no emprego de bambu na confecção de estruturas e peças de artesanato. O segundo, mais extenso, com quatro semanas de duração, foi realizado pelo Senai-DF e preparou os extrativistas para o trabalho com carpintaria e marcenaria.

Como resultado do curso, foi fabricada uma unidade de trabalho para escritório em cedro e taboca, tudo trazido da Reserva Extrativista Chico Mendes de Assis Brasil.

A conclusão dessa fábrica será a fase preliminar do Projeto Taboca, deixando-o pronto para entrar em sua fase produtiva. Espera-se ofertar peças de decoração em taboca para abastecer o mercado local e regional.

No entanto, o grande diferencial do projeto será a possibilidade de ofertar móveis de escritório em madeira e taboca para os órgãos públicos municipais e estaduais. Por meio das aquisições públicas, que hoje compram móveis de São Paulo devolvendo o recurso que vem com o FPE (Fundo de Participação dos Estados), será possível viabilizar a unidade produtiva.

Pelo lado da oferta de matéria-prima, não há a menor possibilidade de se chegar à exaustão do recurso. A taboca é uma das espécies mais fáceis de manejar. A mancha de floresta com taboca em Assis Brasil pode chegar a impressionante cifra de mais de 200 mil hectares.

Assim, começa a se descortinar uma identidade florestal com elevado grau de competitividade em Assis Brasil, o mais novo portal de entrada do Brasil com a pavimentação da Rodovia Bioceânica, que vai ligar o Acre aos países do Pacifico.

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