A região da Bacia Hidrográfica do Rio Purus sob influência de suas cabeceiras, ou seja, praticamente toda extensão do leito do Purus que corta o território acreano nos municípios de santa Rosa, Manoel Urbano e Sena Madureira, passa por um processos de ocupação social e produtiva que se intensificaram nos últimos 10 anos.

Ocorre que ao tirar essas localidades do isolamento por via rodoviária, com a pavimentação da BR 364, essa ampla região com mais de 500.000 hectares de florestas sob influencia direta do regime dos rios, se tornou preferencial para expansão da agropecuária, em especial aquela baseada no plantio de forrageiras e de grãos.

Acontece que além da oferta de água para o contingente populacional existente nesses 3 municípios depender, quase que exclusivamente, do regime hidrológico do Rio Purus, há ainda que considerar que o Purus, em conjunto com o Madeira são os principais afluentes da margem direita do Rio Amazonas, o que sugere que o desmatamento da mata ciliar na área de influencia das cabeceiras, provoca comprometimentos em cadeia ao longo de toda bacia até o Amazonas.

Prevenir e se antecipar a esse perigoso quadro deveria ser o principal objetivo para as medidas de mitigação do impacto ambiental oriundo das obras de pavimentação e de construções de pontes nessa região.

Por meio de uma ampla parceria, que envolveria agentes públicos municipais e estaduais, organizações de representação de trabalhadores rurais e instituições de pesquisas, seria possível concentrar esforços para, por meio do diagnóstico da realidade local e com dados técnicos confiáveis, propor soluções para o principal problema: o desmatamento da mata ciliar do Purus.

Somente por meio de um amplo processo de mobilização, a ser desencadeado nas áreas urbanas e rurais das cidades localizadas na área de influência das cabeceiras do Purus, será possível reverter as condições de degradação da bacia.

Um primeiro e crucial passo deveria incluir a identificação das espécies de ocorrencia natural na mata ciliar do Purus, com a realização de um Inventário Botânico, e a seleção de árvores matrizes para produção de sementes.

A partir daí se poderia instituir programas para coleta de sementes das espécies nativas selecionadas como prioritárias para a restauração florestal da mata ciliar original. A instalação de algumas estruturas para produção de mudas, preparo da área a ser restaurada e efetivo plantio das mudas, completaria as atividades de um serviço público de rotina para administração municipal e estadual.

Talvez esteja aí o diferencial de planejamento que poucos conseguem perceber. Ações de monitoramento das bacias hidrográficas e de restauração florestal da mata ciliar, há muito tempo deixaram de ser esporádicas. Devem fazer parte do rol de atividades permanentes e rotineiras da administração pública.

Ou seja, tal qual construir escolas e garantir seu funcionamento, reformar hospitais e contratar médicos, coletar lixo, tapar buracos e calçar ruas, somente para citar alguns exemplos de atividades que consumem diariamente o orçamento público, a restauração florestal da mata ciliar das bacias hidrográficas deve ser transformada em mais uma atividade de rotina.

A boa notícia é que os passos para realização de cada atividade até chegar a completa restauração florestal da mata ciliar, que é a principal exigência da administração pública para instituir programas orçamentários de rotina, já estão minuciosamente detalhados. A má notícia é que as autoridades dirão que não há recursos.

No entanto, com apartação do Rio Madeira, isolamento e crise de abastecimento, quem sabe o dinheiro da restauração florestal aparece.

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