Em recente evento ocorrido na Universidade Federal do Acre, Dercy Teles, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, emocionou a platéia com um daqueles depoimentos que justificam eventos dessa natureza.

Com uma coragem que já não se vê com facilidade, Dercy ousou tocar em três pontos polêmicos da realidade rural acreana: a crise do movimento sindical, o triste dilema das reservas extrativistas e o empate (para usar um termo dos antigos seringais) produtivo entre a pecuária e a floresta.

Ousou mais: ao reportar-se aos desfechos indesejáveis relacionados à implantação de políticas públicas no setor rural, sobretudo em âmbito estadual, pôs boa parte da culpa na atuação dum governo considerado aliado.

Com uma simplicidade cativante, Dercy descreveu toda sua experiência no sindicalismo rural de Xapuri e nas comunidades eclesiais de base no sul do Amazonas, para demonstrar que tinha autoridade para fazer aqueles alertas e que sabia da dimensão e das conseqüências das polêmicas nas quais se envolvia.

o afirmar que o sindicalismo rural no Acre, e sobretudo em Xapuri (o berço de um dos maiores ícones do movimento sindical, Chico Mendes), estava falido, sem rumo e entregue a dois tipos de sindicalistas, os que possuem cargos no governo e os que esperam uma vaga de algum cargo no governo, Dercy apresenta uma realidade que vem se arrastando há mais de dez anos.

Ocorre que eram outras as expectativas em relação ao desempenho de governos aliados, que contaram com o apoio do movimento sindical para sua eleição, em esfera municipal, estadual e federal. Ao invés do fortalecimento dum sindicalismo autônomo e atuante, os aliados fizeram a opção pela cooptação, pela desarticulação e pela contratação de porta-vozes do discurso oficial.

Ou seja, optaram por um sindicalismo que existe apenas quando os governos são aliados e que não terá guarida e moral para opor reivindicações a governos considerados não alinhados.

O resultado prático da crise no movimento sindical pode ser facilmente percebido em relação às reservas extrativistas. Abandonadas após sua criação em 1990, ao extrativista residente nas reservas sobrou a alternativa do boi. Afinal, como diz Dercy, o boi anda, o que facilita seu escoamento.

Por outro lado, não será a fábrica de preservativos, que tem mais importância na geração de empregos em áreas urbanas que no interior dos seringais, que irá promover uma saída econômica pela floresta. Os produtos da imensa diversidade biológica, como as resinas, fitoterápicos, frutas, sementes e fauna, não saem da esfera do potencial que não gera renda.

Na falta de políticas públicas para viabilizar o uso múltiplo da floresta, os extrativistas se direcionaram (infelizmente, diga-se) para a pecuária. Uma atividade perigosa para ser instalada numa unidade de conservação, já que o resultado é mais que conhecido: desmatamento.

O manejo florestal para madeira, por sua vez, como prioriza a oferta de madeira e não a tecnologia do manejo florestal comunitário, que pressupõe a aplicação de um conjunto de ações de organização comunitária para produção, extensão florestal, educação e qualificação, como as que foram realizadas em algumas experiências acreanas, acaba por se confundir com uma derrubada qualquer de árvores.

No final das contas, sem determinação política pela promoção do manejo florestal de uso múltiplo, Dercy está certa quando afirma: esse manejo é uma falácia!

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