Artigos semanais publicados aos domingos.
Receba nossos artigos.
Políticos da Amazônia atenuam fiasco brasileiro na COP 25
Não adianta esperar alguma liderança política por parte do governo (sobretudo em assuntos relacionados ao meio ambiente e aquecimento global), mas a participação brasileira na COP 25 trouxe um alento, já que alguns parlamentares e governadores da Amazônia assumiram sua responsabilidade na condução de políticas regionais para reduzir os impactos das mudanças climáticas.
Pelo que se viu em Madri, até o encerramento, no sábado (14/12), e no decorrer da COP 25, a 25ª Conferência das Partes para a Convenção do Clima, a comitiva oficial brasileira, comandada pelo Ministério do Meio Ambiente, não apresentou propostas, tendo se limitado a obstruir negociações que requerem desfecho urgente.
Sob o entendimento simplório e equivocado de que o Acordo de Paris privilegia as nações mais industrializadas e cria barreiras não tarifárias para dificultar que países em desenvolvimento exportem seus produtos, a equipe do MMA perdeu o foco da discussão – a saber, a mitigação da crise ecológica.
Para os poucos familiarizados, barreiras não tarifárias são obstáculos impostos pelos compradores aos países exportadores, quando estes adotam práticas consideradas inaceitáveis em seus processos produtivos.
Por exemplo, quando o Brasil, que é o maior produtor e exportador de carne de boi, é acusado de desmatar e plantar capim em áreas de florestas – o que, por óbvio, contraria o esforço mundial para reduzir as emissões de carbono –, e os importadores, sob o argumento de que a pecuária não pode destruir a floresta na Amazônia, deixam de comprar a carne brasileira.
Ora, se por um lado o comércio internacional de commodities se reveste de crucial importância para o Brasil, que tem mais de 50% do PIB subordinado ao agronegócio, por outro, é inegável que os países associados à ONU estão sendo pressionados a adotar salvaguardas ambientais, no sentido de reduzir os efeitos do aquecimento global.
Dessa forma, as nações cuja economia é baseada no setor primário terão que investir em aumento de produtividade. Significa dizer que o Brasil deve aumentar a oferta de carne de boi e, ao mesmo tempo, reduzir a demanda por novas terras com florestas para cultivo de soja e capim.
Por seu turno, países em estágio avançado de industrialização, como os que integram o G7, grupo das sete economias mais pujantes do planeta, terão que instalar filtros nas chaminés de suas fábricas e financiar o plantio de florestas para retirar o carbono que lançam na atmosfera.
Nenhum país sairá imune, livre de obrigações e prejuízos, no processo de adaptação às mudanças climáticas e mitigação da crise ecológica atual.
A boa notícia é que a economia de baixo carbono, que pressupõe a substituição dos combustíveis fósseis (leia-se: petróleo e carvão mineral) na geração de energia, possibilita o surgimento de novos ofícios – que por sua vez são superiores, em termos de quantidade e qualidade, às ocupações a serem extintas.
Resumindo: no caso da Amazônia, os empregos e a renda advindos da exploração sustentável da biodiversidade florestal, no modelo preconizado pela economia de baixo carbono, irão, no médio prazo, produzir mais riqueza que o desmatamento para criar boi.
Felizmente, esse foi o ponto de vista defendido por deputados federais, senadores e governadores presentes na COP 25, durante as negociações realizadas diretamente entre países doadores e os 9 estados da Amazônia.
Os políticos da Amazônia assumiram o vazio de liderança deixado pelos representantes brasileiros.
Enfim, o aquecimento do planeta é uma realidade, o Acordo de Paris vai resolver, e a Amazônia poder ser a chave para a solução – pouco importando a estupidez e a indiferença do governo federal.
Em 2019, escalada do desmatamento afasta Amazônia da sustentabilidade
Em 2019, o desmatamento aumentou 29,5% em relação ao ano anterior. Pior que esse resultado, foi a resposta do governo. Enquanto cerca de 10.000 km² de florestas desapareceram, um recorde para os últimos 10 anos, os gestores ambientais, sob o argumento de que o controle do desmatamento se contrapõe ao desenvolvimento, recusam-se a tratar com a devida prioridade a destruição da floresta amazônica, a maior tragédia ambiental brasileira, e acusam as ONGs de conspirar contra o país. Alegações insanas, desprovidas de qualquer respaldo científico, mas que contaminam os desinformados. A persistir a tendência de destruição da floresta na Amazônia, apenas a imposição de barreiras comerciais ao agronegócio brasileiro poderá levar o governo a entender o que todos já sabem: o mundo não vai tolerar a destruição da Amazônia.
[leia mais...]Após recorde de desmatamento, Acre vai alterar ZEE para desmatar ainda mais?
O desmatamento ocorrido no Acre entre agosto de 2018 e julho de 2019 foi o maior dos últimos 10 anos. Um recorde lamentável, que abala a marca de sustentabilidade conquistada pelo estado desde a criação das duas primeiras reservas extrativistas do país, nos idos de 1990. Para alguns, todavia, isso pode não significar muita coisa: o governo está pretendendo revisar o ZEE (zoneamento ecológico-econômico), de modo a ampliar a quantidade de áreas florestais que legalmente podem ser desmatadas. O que é ainda mais impressionante é que a destruição da floresta não dará lugar ao agronegócio tecnificado da soja – como o praticado em Mato Grosso, por exemplo. Nada disso, é só para a criação extensiva de boi, atividade produtiva superada, que não tem mais lugar no mundo, quanto mais para substituir uma floresta tropical.
[leia mais...]Ainda sobre o desmatamento recorde na Amazônia em 2019
Ao defender o desmatamento legalizado como forma de ocupação produtiva adequada à região amazônica, as autoridades ambientais desconsideram que a missão do Ministério do Meio Ambiente é fiscalizar e coibir o desmatamento ilegal e oferecer alternativa produtiva ao legalizado. Sob um misto de indiferença e incompetência, a conduta dos gestores do MMA leva a crer que o controle do desmatamento na Amazônia até 2022 é causa perdida. Significa dizer que a destruição da floresta, a maior tragédia ambiental brasileira, que mancha a reputação do país perante a ONU e o mundo, persistirá.
[leia mais...]688 km2 desmatados no Acre em 2019: recorde para os últimos 15 anos
A divulgação, pelo conceituado Inpe, da taxa de desmatamento na Amazônia em 2019 trouxe apreensão em relação à possibilidade de uma nova tendência de alta. Das várias evidências que sugerem o risco de aumento acentuado já em 2020, o recorde de destruição florestal observado no Acre chama a atenção. Ao alcançar a marca de 700 km², a maior área desmatada desde 2005, o Acre mais uma vez macula a reputação ecológica que por algum tempo ostentou e, além disso, revela uma nova dinâmica do desmatamento, com participação majoritária do médio produtor, que prioriza o agronegócio da criação de boi. Um desafio complexo para a fiscalização do desmatamento ilegal e, mais ainda, para oferecer alternativa produtiva ao desmatamento legalizado.
[leia mais...]Maior tragédia ambiental do país, desmatamento dispara na Amazônia
Aguardada com certa ansiedade, a divulgação da taxa de desmatamento na Amazônia pelo reconhecido Inpe confirmou o que muitos pesquisadores já haviam antecipado: em 2019, houve alta de quase 30% na destruição da floresta, em relação a 2018. Um dado alarmante e que exige respostas urgentes. Contudo, diante da postura das autoridades a respeito das questões ambientais, da paralisia do Conama e das declarações corrosivas dadas tanto pelo presidente quanto pelo ministro do Meio Ambiente, tudo indica que não é possível contar com o empenho do governo. Não haverá reação, e a preocupação aumenta ainda mais com a perspectiva de aquecimento da economia em 2020 – muito embora o governo não queira saber, desmatar na Amazônia, dentro ou fora da lei, é investimento.
[leia mais...]Adeus, senhor ditador
Embora tenha causado espanto a atitude da senadora boliviana que se autoproclamou presidente diante de um parlamento sem quórum para lhe legitimar, o imbróglio, obviamente, começou bem antes, quando Evo Morales e aliados (incluindo o vice-presidente e demais integrantes da linha sucessória), de maneira temerária e um tanto covarde, renunciaram e fugiram do país, deixando o povo entregue à própria sorte. Mais antes ainda, quando o autoritário governante não obedeceu ao resultado de um referendo pelo qual teve enjeitada sua pretensão de continuar no poder até morrer. A despeito dos expressivos ganhos econômicos trazidos pelo presidente, os bolivianos não suportaram a permanência do ditador.
[leia mais...]A COP 25 e os estúpidos
Talvez esteja nas questões relacionadas às mudanças climáticas o campo no qual a diplomacia brasileira ganhou mais destaque nos últimos 30 anos. Desde que organizou e sediou a Rio 92 – onde teve início o profícuo processo de negociação que culminou no Acordo de Paris, assinado em 2015 –, o Brasil se tornou referência internacional para assuntos de meio ambiente. A despeito de ser uma potência mundial em florestas e em petróleo, o país tem se esforçado para assumir suas responsabilidades no que respeita ao atendimento das demandas da humanidade e redução do aquecimento global. Porém, toda essa expertise pode se perder, diante dos estragos causados à imagem da nação pelo atual governo, em apenas 11 meses de mandato.
[leia mais...]Trigo que consumimos foi melhorado por 8.000 anos
A redução do nível dos oceanos na era do gelo, há mais de 20.000 anos, possibilitou que o homem caminhasse por todo o planeta e ocupasse regiões que hoje são inacessíveis. De acordo com o historiador Geofrey Blainey, o degelo ocorrido no fim do período glacial impediu as passagens entre os continentes e fez surgir uma grande extensão de terra antes congelada. Com mais gente e mais área agriculturável, a sedentarização era inevitável. A sedentarização trouxe a domesticação. Com inteligência, o homem domesticou as espécies vegetais do seu interesse e, ao longo dos séculos, condicionou-as a longo processo de melhoramento genético. Hoje, não somente o pão consumido diariamente, mas o arroz, feijão, o tomate – enfim, quase tudo de que a humanidade depende para viver foi melhorado geneticamente.
[leia mais...]Para o Brasil, negar aquecimento global é estupidez
Ao negar o aquecimento do planeta e as consequentes alterações no clima, o governo brasileiro, além de contrariar os cientistas e os resultados de inúmeras pesquisas, comete um gravíssimo erro geopolítico. Desconsidera que na chamada economia de baixo carbono, voltada para a adequação às mudanças climáticas, o Brasil, por mais irônico que pareça, só tem a ganhar, diante da elevada vantagem comparativa que possui, representada pela área de floresta e rede hidrográfica presentes na Amazônia – para ficar nos dois recursos naturais mais valorizados: água e florestas. Não há razão para nos aliarmos aos tais “negacionistas” da mudança climática, a não ser, por suposto, estupidez.
[leia mais...]Despreparo do governo potencializa desastre do piche no Nordeste
Liderança é o que se espera de um governo quando acontecem desastres – como o causado pelo derramamento de óleo que está poluindo as praias do Nordeste e matando animais marinhos, e que poderá afetar drasticamente o turismo na região. Liderança para se antecipar aos impactos, estabelecer salvaguardas e, não menos importante, esclarecer e tranquilizar a sociedade. Liderança para encabeçar o esforço técnico e político necessário à condução do problema, disponibilizando recursos, buscando soluções, minimizando os prejuízos e dando assistência à população diretamente afetada. Mas liderança, hoje, é o que não existe no governo federal.
[leia mais...]Da crítica à industrialização ao Acordo de Paris
Em 06 de outubro último, o Partido Socialista – apoiado por ampla coligação de partidos identificados com o espectro ideológico da esquerda, incluindo o Partido Verde – ganhou as eleições em Portugal. A conjunção de forças políticas de centro-esquerda em torno da agenda ecológica vem configurando uma tendência em alguns países europeus. Especula-se que a exigência por renovação na política, comum por aqui e em diversas sociedades mundo afora, vem sendo atendida pela atualização do discurso, mediante a assimilação do tema das mudanças climáticas e do Acordo de Paris. Não significa que as demandas sociais, como a questão dos refugiados, no caso da Europa, percam importância – todavia, a crise ecológica, ao pôr em risco o planeta e a humanidade, leva a discussão para outro plano, o da própria existência do Homo sapiens. Para os políticos tidos como de centro e de esquerda, a agenda relacionada à crise ecológica e ao Acordo de Paris exibe dois atrativos muito interessantes: apresenta alto grau de inserção na sociedade e não pode ser apropriada pelos políticos de direita, historicamente avessos à ecologia. As reações mundiais ao desmatamento na Amazônia parecem refletir essa tendência.
[leia mais...]Titulação de terras na Amazônia fracassa em 2019
Estimativas (ainda que pouco precisas) sugerem que a demanda reprimida relacionada à titulação de terras na Amazônia alcança cerca 600.000 propriedades rurais. A regularização fundiária configura condição precípua para fornecer segurança jurídica ao processo de ocupação produtiva de todo e qualquer território, em especial no caso da região amazônica. Há quem acredite, embora tal crença careça de comprovação, que, ao titular, o governo beneficia a grilagem – na tosca premissa de que a maior parte das terras da Amazônia pertence aos grileiros. Trata-se de uma afirmação desprovida de fundamento. Outros, igualmente equivocados, advogam que a titulação promove o desmatamento – algo inusitado, para dizer o mínimo. Na verdade, a titulação das terras fornece segurança jurídica e permite a responsabilização do proprietário pelo descumprimento das rígidas regras ambientais. Titular as terras, na Amazônia, é o primeiro passo para, um dia, zerar o desmatamento – o ilegal e o legalizado.
[leia mais...]Desmatamento retarda chuva, prejudicando safra de soja na Amazônia
Efeitos nefastos do desmatamento da floresta na Amazônia, sobretudo em relação às características físicas e químicas do solo, vêm sendo comprovados, desde a década de 1970, por dezenas de pesquisas. Da mesma forma que a contribuição da destruição florestal para o aumento de carbono na atmosfera e o consequente aquecimento do planeta se transformou em verdade científica inquestionável no decorrer da década de 1990. Faltava aos pesquisadores estabelecer o impacto do desmatamento na Amazônia sobre o regime de chuvas na própria região. Estudos recentes comprovam que há comprometimento em termos de quantidade e de distribuição da água. Significa que nas localidades em que a área desmatada é elevada, haverá desequilíbrio do regime pluviométrico – e, por conseguinte, alagação ou seca. E mais, a diferenciação entre verão e inverno pela quantidade de chuvas deixará de existir. É o agravamento de uma crise ecológica que poderia ser evitada, mas não é.
[leia mais...]ONGs ajudam a reduzir queimadas na Amazônia, governos nem sempre
A fim de enfrentar o problema das queimadas na Amazônia, o governo assumiu uma estratégia desastrosa, orientada principalmente para: sabotar o Fundo Amazônia (que disponibiliza recursos financeiros para o combate às queimadas); responsabilizar as ONGs (que desenvolvem alternativas produtivas à prática da queimada); caçar incendiários criminosos (sendo que a queimada é o investimento anual do produtor em procedimento agrícola para consolidar sua criação de boi). Não é preciso muito esforço intelectual para perceber o desperdício de tempo. Sem embargo, diante da urgência suscitada pela crise ecológica decorrente das mudanças climáticas, a humanidade já não tem mais tempo a perder.
[leia mais...]Ecologistas e a política
Em momentos de discussões requentadas, equivocadas e enfadonhas em torno de uma absurda “conspiração” internacional destinada a despojar a Amazônia da soberania brasileira, nada melhor que rever os clássicos. É inegável a importância do movimento ecológico para adequar o processo de desenvolvimento dos países à capacidade de suporte dos ecossistemas. Apresentando potencial e vocação produtiva para a nova economia de baixo carbono, o Brasil deve reconhecer a importância estratégica da floresta amazônica, do Cerrado e da Caatinga. Não pode haver tolerância em relação à repetição de erros históricos, como o que levou à destruição da floresta existente na Mata Atlântica – que foi substituída pela criação boi, sob inexpressivo retorno econômico e elevados custos para a sociedade, relacionados à recuperação da degradação ambiental no Sudeste brasileiro. Em tempos de idiocracia, mais sábio retornar aos clássicos.
[leia mais...]3.051 focos de queimada no Acre: recorde de agosto para os últimos 16 anos
Pressionado pelos países que assinaram o Acordo de Paris e que se preocupam com a floresta na Amazônia, o governo federal publicou decreto suspendendo as licenças para queimadas, mas cometeu o erro técnico de abrir exceções, o que compromete severamente o resultado da medida. Nenhum governo estadual, dentre os nove da Amazônia, teve coragem de fazer o óbvio, ou seja, usar o conhecimento da realidade local para melhorar o decreto federal, outorgando-lhe maior rigor técnico. Surpreende que, no Acre, depois da edição de dois decretos estaduais de emergência ambiental, ninguém tenha pensado na saída mais barata e rápida para resolver o problema: impor ampla moratória ao licenciamento das queimadas. Com isso, o controle é facilitado e a fiscalização fica bem mais eficiente, sem contar que os custos para a sociedade diminuem expressivamente. Ora, se toda e qualquer queimada passa a ser ilegal, o fiscal não dá viagem perdida, e tudo se resolve no curto prazo. Ainda há tempo, melhor decretar a moratória das queimadas já, antes que setembro arda.
[leia mais...]As queimadas e os estúpidos
Com sua costumeira inépcia, o governo federal se atrapalhou na condução do imbróglio em torno das queimadas na Amazônia. Levantando suspeitas sem provas (como sempre), desprezou os dados científicos do Inpe e passou a acusar as ONGs de estimular as queimadas e se aliar aos países doadores de dinheiro, num complô para “internacionalizar” a região. De verdade, apenas uma triste constatação: a extrema incapacidade do governo – cujo fracasso parece mais inequívoco a cada dia. Porém, a reação internacional à incompetência governamental evidencia uma preocupação genuína com os destinos da floresta na Amazônia. Ainda há esperança.
[leia mais...]Movimento ecológico e a crítica ao modelo de desenvolvimento atual
Muito embora o governo federal rotule os ecologistas, de maneira generalista e preconceituosa, como “esquerdistas”, o movimento ambientalista, no Brasil e no mundo, sempre buscou se distanciar do espectro ideológico, priorizando o questionamento ao modelo de desenvolvimento assumido pela humanidade, que desconsidera a sustentabilidade planetária, e os prejuízos ambientais dele decorrentes. Ou seja, para os ecologistas não importa se um país é capitalista ou socialista, se um governo é de direita ou de esquerda – mas, sim, se a economia é intensiva no desmatamento das florestas e, por isso, insustentável; ou se privilegia o baixo carbono e, portanto, investe na sustentabilidade.
[leia mais...]Cooperação com Alemanha é crucial para Amazônia
Diante das escabrosas declarações do governo brasileiro atacando o apoio técnico e financeiro oferecido pela Alemanha à Amazônia, e que subsiste há mais de 4 décadas, poucos reagiram em defesa da inegável e crucial importância desse apoio para o controle do desmatamento. Em todos os estados amazônicos, em especial Acre e Pará, os peritos da GIZ, a agência de cooperação alemã, envolveram-se diretamente nas discussões e realização do zoneamento econômico-ecológico, considerado o principal método de macroplanejamento para a ocupação produtiva da região. Afinal, o zoneamento permite planejar o fim do desmatamento, legal e ilegal. Talvez estejam aí as tais “segundas intenções” que, como acusa o governo, motivam a cooperação germânica: eles, os alemães, mantêm a expectativa de que o desmatamento na Amazônia acabará um dia, o governo espera que não.
[leia mais...]“The Economist” condena desmatamento na Amazônia
Ao que parece, o governo que se diz “liberal na economia” precisa urgentemente de um manual de conduta. Tudo indica que a maior parte dos gestores nomeados em Brasília confunde liberalismo com salve-se-quem-puder. Em relação à Amazônia, a cartilha seguida pelo Executivo inclui desmatar ao máximo para fazer crescer a economia e expulsar os ecologistas escondidos em ONGs que tramam a venda das nossas riquezas. Segundo ainda a visão dominante no Planalto, quem sabe o que fazer na Amazônia é o governo federal, e os gringos devem ficar calados. Bem, a prestigiada revista inglesa “The Economist”, uma referência para os liberais do mundo, dá agora o recado: chega de vandalismo na Amazônia, ou a Europa não vai importar o agronegócio brasileiro. É melhor escutar.
[leia mais...]ONGs e o movimento ecológico
Embora reconhecido mundo afora, o movimento ecológico, ou ambientalista, ganhou maior força e expressão por aqui a partir do fim do regime militar. A década de 1990 viu surgir e se consolidar um conjunto expressivo de organizações não governamentais, ou ONGs, vinculadas, por sua vez, a um movimento ecológico genuíno, adaptado às peculiaridades e ao processo de desenvolvimento em curso no Brasil. Assumindo o combate ao desmatamento da floresta na Amazônia como pauta prioritária, as ONGs ambientalistas conquistaram considerável espaço político junto ao Sistema Nacional de Meio Ambiente. Não há dúvida quanto à contribuição crucial dessas entidades para que o país lograsse alcançar respeito internacional em relação à política ambiental. É lamentável que o atual governo, que tem na incompetência uma marca indissociável, enxergue a atuação das ONGs ambientalistas como ameaça. A quê, ninguém é capaz de dizer.
[leia mais...]Desmatamento legal, ilegal e os estúpidos
Depois de o Ministério do Meio Ambiente atacar o Fundo Amazônia, mecanismo público de fomento gerenciado pelo eficiente BNDES, foi a vez do ministro astronauta abrir nova frente de combate, desta feita contra o reconhecido Inpe, órgão público que tem a incumbência de medir o desmatamento na Amazônia. No primeiro caso, esquece-se que o dinheiro doado pelos países ao fundo é fundamental para controlar o desmatamento na Amazônia. No segundo, esquece-se que os dados do Inpe são referência científica mundial para compreender a dinâmica do desmatamento e, um dia, lograr zerar a destruição da biodiversidade florestal na região. Resumindo, de um lado da batalha, os competentes órgãos de governo: BNDES e Inpe. De outro lado, gente estúpida do governo. É só isso mesmo.
[leia mais...]Planeta precisa de 1,2 trilhão de novas árvores para equilibrar o clima
Depois que o tema das mudanças climáticas ganhou comprovação científica e repercussão global, foram desenvolvidas tecnologias destinadas a retirar os gases causadores de efeito estufa da atmosfera, principalmente o carbono, ou CO2 – que, na condição de gás encontrado em maior quantidade, tem recebido mais atenção dos cientistas. Entre essas alternativas tecnológicas, o cultivo de árvores surge como preferencial por várias razões – duas delas bem convincentes: baixo custo e melhoria da dinâmica econômica local. Que é mais barato produzir e plantar mudas de árvores não há dúvida. O que poucos entendem é que a geração de emprego e renda no setor produtivo representado por coleta de sementes, produção de mudas, plantios de árvores e manutenção de florestas direciona a economia para a promoção da sustentabilidade ecológica do planeta. Nessa nova economia, caracterizada pelo baixo carbono, os brasileiros, em geral, e a Amazônia, em particular, terão papel de destaque. Não há razão para não investir nela.
[leia mais...]“Os limites do crescimento”, 50 anos depois
Em 1970, quando foi elaborado o relatório “Os limites do crescimento”, o mundo era assombrado pela possibilidade de explosão da chamada “bomba demográfica”. Ninguém poderia prever que, passados 50 anos, o crescimento demográfico já não seria um problema, mas, ainda assim, o planeta estaria à beira de um colapso ecológico decorrente do aquecimento causado pela quantidade de carbono lançado na atmosfera. Naquela época, outro gás, o CFC usado em sprays e em aparelhos elétricos como geladeiras, trazia apreensões, em razão da destruição da camada de ozônio e da proliferação do câncer de pele. Isso foi resolvido com o banimento do CFC. Agora, em 2019, o Acordo de Paris une os países no esforço para mitigar as mudanças climáticas. Não se trata da indústria dos refrigeradores, e sim de todas as indústrias, o que torna o desafio bem mais complexo – com um detalhe: o tempo de agir já passou.
[leia mais...]Trocando túmulos por árvores e cemitérios por florestas
A adequação do modo de vida humano à realidade ecossistêmica configura um grande desafio para alcançar a sustentabilidade ecológica. A diretriz da adequação ao ecossistema, defendida pelo movimento ambientalista internacional, pressupõe que a humanidade deve não apenas viver de acordo com o que permitem os recursos naturais, mas também morrer. Foi assim que surgiu a excelente ideia do cemitério florestal. Ao invés de adquirir jazigos em cemitérios lúgubres, compra-se uma árvore para receber as cinzas de uma família. Imagine uma árvore de castanheira, que vive mais de 2000 anos, servindo de memorial para você e seus descendentes, dentro de um bosque, com toda a placidez e o conforto espiritual que só as florestas oferecem…
[leia mais...]Intransigência do governo paralisa Conama
A investida do governo federal contra os conselhos e outros colegiados instituídos nos últimos 40 anos tem endereço certo: coibir a atuação das organizações não governamentais na definição e execução de políticas públicas. Nadando contra a corrente internacional (uma tendência, ao que parece, dos atuais gestores em Brasília), o governo busca tolher a participação da sociedade civil na política pública, o que reduz a transparência e aumenta a ineficiência. A paralisia decisória do Conama é só um exemplo das consequências que estão por vir: enquanto o bode era colocado na sala, teve início, na Amazônia, a estação do desmatamento e das queimadas.
[leia mais...]Preservacionismo atrapalha exploração da biodiversidade na Amazônia
Duas correntes de pensamento (preservacionismo e conservacionismo) disputam espaço político na esfera de atuação dos órgãos ambientais federais. Em dois desses órgãos, o conflito é evidente e interfere onde não deveria – na qualidade do serviço prestado à sociedade. No caso do Ibama, o desserviço aparece na porcentagem de multas que não são quitadas (cerca de 90%), a despeito do constrangimento causado a quem foi multado. Já no ICMBio, o desserviço se manifesta nos gargalos de gerenciamento que emperram as unidades de conservação, conforme diagnosticado em auditoria realizada pelo TCU. Preservacionistas defendem a aplicação de sansões a todo empreendedor que se aventure a explorar a biodiversidade florestal na Amazônia. Também querem as unidades de conservação segregadas da dinâmica econômica regional. Diante do cenário atual, não há dúvida: os conservacionistas foram vencidos.
[leia mais...]O fim dos seringais nativos da Amazônia
Ainda que subsistam experiências de produção artesanal de artigos fabricados com borracha oriunda de seringais nativos da Amazônia, todas se restringem ao atendimento de grupos específicos de produtores e de compradores. Quase sempre se exige desses grupos uma postura de responsabilidade ecológica e social bem distante da realidade de mercado. Nenhum desses produtos artesanais (couro vegetal, solados de calçados, peças de decoração, bijuterias…) apresenta escala suficiente para reverter o colapso econômico da borracha amazônica. Para completar, não existem seringueiros vivendo ou em atividade nos seringais. Melhor se conformar e encontrar alternativa. Os seringais nativos da Amazônia acabaram.
[leia mais...]Sobre coelhos, caranguejos e cobaias
Atendendo ao clamor da sociedade, ou de parte barulhenta dela, os parlamentares discutem regras para restringir o emprego de cobaias vivas em testes de produtos destinados ao consumo humano. Ante a histeria provocada pelos pretensos defensores dos direitos dos animais, poucos se dão conta que animais são sacrificados em benefício da sobrevivência do Homo sapiens desde sempre, sendo o uso de cobaias indispensável à ciência – e essa premissa não pode ser alterada por razões românticas ou sentimentais. A saída, como de resto, está na tecnologia. Quando o ser biônico se tornar realidade, ele poderá testar nossos produtos. Mas, até lá…
[leia mais...]Incompetência e truculência: o ataque do governo ao Conama
Uma linha tênue separa a truculência da incompetência. A edição de um decreto alterando a composição do Conama, órgão superior da Política Nacional de Meio Ambiente, sem nenhuma discussão prévia com agentes econômicos e atores sociais, revela a truculência de um governo inepto para a democracia. A alteração de uma norma de 30 anos de existência, que estabelecia a reunião de ambientalistas, produtores, empresários, pesquisadores e gestores públicos, no âmbito de um colegiado cujo histórico de deliberações demonstra êxito no avanço da sustentabilidade ecológica, manifesta a incompetência de um governo que não consegue eleger metas e prioridades. É desanimador, quando truculência e incompetência se encontram – sobretudo se isso ocorre nas mais altas esferas da Administração Pública. Fazer o quê?
[leia mais...]Condenar o Fundo Amazônia é estupidez: governo sabotando governo
A eficiência e probidade do BNDES no gerenciamento do Fundo Amazônia foram atestadas em auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União, em 2018. Os países doadores do dinheiro gerido pelo fundo também avalizam o BNDES e elogiam sua capacidade de gestão. Sendo o Fundo Amazônia uma bem-sucedida iniciativa, que goza de prestígio e reconhecimento como mecanismo de fomento financeiro, que razões teria o Ministério do Meio Ambiente para discordar do TCU e dos países doadores? A resposta é simples: nenhuma, é só estupidez mesmo.
[leia mais...]O planeta é uma espaçonave, somos apenas passageiros
Há duas maneiras de reduzir drasticamente ou (com um pouco de sorte) até mesmo zerar o desmatamento legalizado na Amazônia. A primeira, por meio da aplicação de taxação corretiva, obrigando o produtor a pagar pela recuperação da degradação que causa e impondo um custo proibitivo à pecuária. A segunda é ainda mais simples e barata. Basta que se impeça que o crédito rural subsidiado pelo Fundo Constitucional do Norte, FNO, seja destinado ao cultivo de capim e à criação de boi. Contudo, como afirmou o economista inglês Kenneth Boulding, há mais de 50 anos, o problema está na vontade política – na Amazônia, não existe vontade política para nenhuma dessas duas medidas.
[leia mais...]ICMBio é refém de suas contradições, mas fechar não é opção
Depois de afirmar que o Ministério do Meio Ambiente “não servia para nada” e que o Ibama era uma “indústria de multas”, o governo federal volta seu despreparo para o ICMBio. Diante da nomeação de uma tropa de policiais para administrar o órgão, cabe questionar quem vai gerenciar as unidades de conservação, atribuição que, obviamente, está bem distante da formação dos militares. Muito embora a criação do ICMBio, em 2007, tenha sido contaminada por uma série de equívocos perigosos, fruto da incompetência dos gestores públicos de então, o órgão é crucial para gerenciar os mais de 15% do território da Amazônia destinados às unidades de conservação.
[leia mais...]Cientistas alertam: Europa não pode importar desmatamento da Amazônia
Quando 602 cientistas, expondo-se publicamente, assinam um manifesto exortando a União Europeia a impor salvaguardas ambientais à importação de carne de gado brasileira, isso quer dizer o seguinte: no curto prazo, o mercado mundial do agronegócio passará por profundas transformações. Para aqueles que preferem não entender, explica-se. O sucesso comercial do agronegócio depende da conservação da floresta na Amazônia. Nenhuma carne de boi criado em pastagens oriundas de áreas de floresta desmatadas entrará no mercado internacional. Simples assim.
[leia mais...]Conservação, ou uso econômico da floresta: esse é o caminho
Um número cada vez maior de técnicos e pesquisadores que atuam na Amazônia defende a exploração da biodiversidade florestal como mecanismo para evitar o desmatamento. Ocorre que, em primeiro lugar, o sistema de fiscalização possui custos proibitivos e contradições insuperáveis – e as persistentes taxas anuais de desmatamento comprovam sua ineficiência; em segundo lugar, aumentar a produtividade de áreas já desmatadas não evita novos desmatamentos. Como vem sendo discutido desde a década de 1960, só há um caminho: aumentar a competitividade da biodiversidade florestal, de forma que a floresta faça frente ao agronegócio.
[leia mais...]Biodiversidade florestal e agronegócio no Acre
Diferentemente dos embates eleitorais anteriores, no pleito de 2018 os dois principais candidatos a governador defenderam o agronegócio como modelo de desenvolvimento econômico para o Acre. Depois do resultado, a conclusão é que o agronegócio se consolida como opção produtiva preferencial para investimento público. Sem embargo, pelo menos 3 verdades inconvenientes foram mascaradas para o eleitor: (1) agronegócio no Acre se baseia na criação de boi; (2) aumentar a produção de gado depende de aumentar o desmatamento; e (3) em mais de 60% das terras do Acre a lei proíbe desmatar. Por outro lado, muitos preferem acreditar em 3 mentiras convenientes: (1) no agronegócio moderno, o pequeno produtor produzirá soja na enxada; (2) aumento da produtividade do solo desmatado impedirá novos desmatamentos; (3) as áreas de reserva legal deixarão de ser impostas pela legislação. Enquanto a população do Acre não discutir o seu futuro, certezas científicas se confundirão com discursos de palanques. Simples assim.
[leia mais...]Exploração comunitária da biodiversidade deveria ser prioridade na Amazônia
Desde que foi concebida, nos idos da década de 1990, no Acre, a tecnologia do manejo florestal comunitário ganhou defensores nas universidades e instituições de pesquisas. Inicialmente voltada para a produção de madeira, essa importante tecnologia logo passou a ser empregada também para a oferta de outros produtos oriundos da biodiversidade florestal da Amazônia. Assumindo uma escala de produção reduzida, o emprego do manejo florestal comunitário possibilita que comunidades que residem na floresta melhorem sua renda mediante a produção de madeira, copaíba, açaí etc., sem comprometer a resiliência do ecossistema florestal sob exploração. Contudo, a despeito de sua adequação à vocação produtiva natural da Amazônia, o manejo comunitário da biodiversidade florestal, lamentavelmente, não é objeto de prioridade por parte dos governos, de forma a se tornar alternativa aos ganhos imediatos gerados pela criação de boi.
[leia mais...]Governo Temer foi decisivo para política ambiental brasileira
Desde sua posse, o Governo Temer passou a ser acusado, por parcela considerável do movimento ambientalista, de promover grave retrocesso na política ambiental. As estatísticas, todavia, demonstram uma realidade bem diferente: a área ocupada por unidades de conservação foi ampliada de forma expressiva, sendo que a proteção legal aos ecossistemas marinhos passou de 1,5% para 25% da zona costeira brasileira. A lista não para por aí, e o país deu passos consideráveis em direção a uma economia de baixo carbono. Por mais que eles, os detratores, não se curvem a um justo pedido de desculpas, a história haverá de registrar os números que provam os avanços observados na Política Nacional de Meio Ambiente no período entre agosto de 2016 e dezembro de 2018.
[leia mais...]Xapuri poderia ter sido o primeiro cluster florestal da Amazônia
Nações, cidades e regiões são moldadas de acordo com as atividades produtivas que priorizam. Xapuri, por exemplo, poderia ter se tornado o primeiro cluster florestal da Amazônia, especializando-se na exploração da biodiversidade florestal, sua vocação produtiva natural. A economia e a cultura do município seriam hoje bem diferentes, e a realidade da população certamente também seria outra. Xapuri perdeu a chance. Com a consolidação da criação de boi, que voltou a ser prioridade, os xapurienses se prendem a um IDH sofrível e à eterna discussão entre desmatar mais ou menos, todos os anos. Só isso.
[leia mais...]Jovens do mundo fazem greve em defesa do Acordo de Paris
A geração produtivamente ativa entre as décadas de 1970 e 1990 e que nasceu, portanto, no pós-guerra, é responsabilizada pelo aquecimento do planeta decorrente do uso excessivo de petróleo e do desmatamento das florestas – que amplia o risco de tragédias como secas extremas e tsunamis. Por sua vez, a geração que se tornou ativa a partir dos anos 2000 vem falhando na obrigação de diminuir as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera. Os jovens começam a se mobilizar com o objetivo de assumir o protagonismo do maior problema da humanidade, as mudanças climáticas. Uma luta mais do que justa, afinal são eles que vão sentir os efeitos da crise ecológica, muito embora não a tenham causado.
[leia mais...]STF decide: procurador municipal exerce função essencial à Justiça
Em decisão histórica, o STF consagrou a tese de que a função de procurador municipal, quando instituída por lei e organizada em carreira, é essencial à Justiça. Significa dizer que os procuradores – a despeito do governo que temporariamente ocupe o poder em âmbito municipal – possuem independência funcional, posto que sua atuação é indispensável à realização da Justiça e, por conseguinte, ao funcionamento do sistema institucional que dá suporte à subsistência do Estado Democrático de Direito. Trata-se de um passo significativo para a consolidação da autonomia municipal estabelecida pela Constituição de 1988 e, em última análise, para o fortalecimento da democracia brasileira.
[leia mais...]O Carnaval nos tempos do politicamente correto
Nos tempos do politicamente correto, nota-se um recorrente patrulhamento, no sentido de que só está certo quem brande bandeiras em favor dos oprimidos e protesta contra a corrupção. Sob tal premissa, os que se recusam a reiterar o discurso apelativo na defesa ou condenação do óbvio são racistas ou corruptos. No fundo, há uma perigosa dose de populismo nessa pregação da moralidade e da defesa de alguma causa que para os outros é questão de bom senso. Ora, ninguém é contra combater a corrupção e decerto as minorias devem ser protegidas, mas os excessos, além de comumente importar em cerceamento da liberdade de expressão, levam a uma lógica maniqueísta, a um comportamento inquisitorial – e, por conseguinte, à prática de injustiças. O carnaval deveria passar longe disso, mas a retórica do politicamente correto impregnou a avenida.
[leia mais...]O Oscar nos tempos do politicamente correto
Ainda que os vencedores do Oscar 2019 tenham sido aplaudidos pelos críticos, parece que o tom politicamente correto dominou as premiações, favorecendo longas como “Pantera Negra” – a primeira adaptação de quadrinhos da Marvel a ser indicada a melhor filme –, enquanto outros não tiveram o crédito que mereciam. Chama a atenção, particularmente, a injustiça cometida com a “A Favorita”. Embora se trate de uma obra magistral, que recebeu 10 indicações, inclusive a melhor filme, levou apenas o prêmio de melhor atriz para Olivia Colman, por sua brilhante atuação como uma rainha inglesa do século XVIII. Ninguém falou isso, mas o filme merecia mais.
[leia mais...]Zoneamento não baniu desmatamento e queimadas no Acre
O mais importante retorno para o dinheiro investido pela sociedade na caríssima realização do ZEE no Acre teria sido, num primeiro momento, a redução drástica das taxas de desmatamento, e num segundo, o fim do desmatamento legalizado. Todavia, a expectativa não foi atendida, e o desmatamento se mantém em patamares inaceitáveis. O pior, gestores públicos discutem a revisão da Lei do Zoneamento, para permitir desmatar mais. Resta saber até onde vai a condescendência dos acreanos e do mundo com a destruição florestal no Acre.
[leia mais...]Países são ricos ou pobres, de acordo com suas próprias decisões
Países, estados, municípios ou regiões são ricos ou pobres, dependendo das decisões de sua população. Ao optarem por assentar sua economia no agronegócio e na produção estatal de petróleo, os brasileiros se tornaram a 9ª economia do planeta. Quando a população da Amazônia prefere a criação de boi ao uso econômico da biodiversidade florestal (o que seria sua vocação natural), está decidindo conviver com taxas anuais e permanentes de desmatamento. Não existe uma conspiração para manter nações, regiões ou estados – como o Acre, por exemplo – na linha da pobreza. O que existe são decisões assumidas, de forma explícita ou não, pela sociedade, que, em função dessas decisões, vai viver sob determinado IDH. Simples assim.
[leia mais...]Extrativistas florestais da Amazônia e o espaço político perdido
Durante o final da década de 1980 e toda a década de 1990, os extrativistas florestais da Amazônia gozaram de grande reconhecimento, em face de seu papel crucial para a conservação da floresta. Representados pelo sindicalista Chico Mendes, alcançaram expressivo espaço político na região. Nos anos 2000, todavia, depois de ser incorporado ao conceito genérico de agricultura familiar, o extrativismo viu sua importância se diluir. Um erro que os amazônidas vão custar a superar. É preciso resgatar a importância do produtor florestal, na condição de ator social decisivo para a conquista da sustentabilidade na Amazônia. A hora é essa.
[leia mais...]Lama que não é tóxica e imprensa que intoxica
Em 2015, os jornalistas se divertiram acompanhando a lama que se movimentava rumo ao litoral capixaba, e noticiando o rastro de destruição causado por seu “alto grau de toxidade”. E ainda que a lama fosse apenas lama, sem resíduos minerais tóxicos, nenhum órgão público de controle ambiental se deu ao trabalho de contestar a imprensa – que, com esse tipo de atitude, apenas desinforma, não contribuindo para discutir e solucionar o problema. Agora, em Brumadinho, a demonização da Vale e a histeria são a regra. Enquanto os gestores públicos não enfrentarem os jornalistas com altivez e determinação, a informação precária e, por óbvio, o problema persistirão.
[leia mais...]Enfim, Serviço Florestal sai do Ministério do Meio Ambiente
Entre o repertório de distrações, trapalhadas e recuos que marcaram o início do novo governo federal, a transferência do Serviço Florestal Brasileiro (órgão originalmente vinculado ao Ministério do Meio Ambiente) para o Ministério da Agricultura se destaca como medida oportuna e acertada, tendo sido recebida com festa pelo setor produtivo. De agora em diante, a exploração de madeira e de outros produtos florestais certamente receberá o enfoque adequado, na condição de importante atividade produtiva que deve ser fomentada – diferente da visão preservacionista predominante na pasta do Meio Ambiente, impregnada de preconceito contra o aproveitamento econômico dos recursos florestais.
[leia mais...]Participação popular não garantiu zoneamento na Amazônia
Muito embora uma vultosa soma de recursos públicos tenha sido investida na realização de Zoneamento Ecológico-Econômico na Amazônia, o retorno obtido foi pífio. Pensado para planejar a ocupação do meio rural, o zoneamento tinha como pressuposto zerar a taxa de desmatamento legalizado. Isso está longe de acontecer, todavia. A discrepância entre as deliberações técnicas e as decisões políticas foi uma das causas desse fracasso, e a participação popular não ajudou a resolver o problema.
[leia mais...]Mostrando passarinho em gaiola, diretor de “Roma” vence Globo de Ouro
Enquanto o filme “Bird Box” mostra passarinhos como indicadores biológicos de um ecossistema desequilibrado, a ponto de levar as pessoas ao suicídio, o longa mexicano “Roma” abusa das cenas com passarinhos em gaiolas. Se o primeiro, politicamente correto, mostra os pássaros contribuindo para salvar a humanidade, o segundo, politicamente incorreto, usa as gaiolas como um clichê, na tentativa de forçar a identificação do espectador com a história.
[leia mais...]Caso do Ibama comprova que juntar órgãos públicos nem sempre funciona
Desconcentração e descentralização são conceitos que poucos dominam, contudo, são cruciais para a gestão estatal das políticas públicas. Nem sempre a existência de 30 ou 20 ministérios representa aumento ou redução de custos. Nada é tão simples para ser solucionado sob um raciocínio tão singelo. O que importa é a relação custo/benefício do retorno dado à sociedade pelo imposto pago. Isso, sim, é simples de entender, mas exige uma equipe técnica de excelência para executar. Governos de sucesso são os que conseguem. Os outros saem pelos fundos.
[leia mais...]