Enquanto persistir oferta maior que a demanda de capital subsidiado para investir na pecuária extensiva será impossível alcançar o desmatamento zero, que inclui o desmatamento legalizado e o ilegal, na Amazônia.
Todos os anos os pecuaristas na Amazônia, que em 100% dos casos usam a tecnologia rudimentar da criação extensiva de gado, podem acessar parcela generosa de recursos financeiros por meio do crédito rural subsidiado, oriundo do FNO (Fundo Constitucional do Norte) e gerenciado em grande parte pelo Basa (Banco da Amazônia).
Por outro lado, desde a conferência conhecida por Rio 92, quando o desmatamento zero na Amazônia foi transformado em prioridade mundial e, sobretudo após o Acordo de Paris, assinado em 2015, em que o governo brasileiro assumiu a meta de zerar o desmatamento até 2030, a oferta de crédito para pecuária extensiva se amplia.
Parece existir alguma contradição nisso. Por exemplo, o Basa divulga relatórios anuais de sustentabilidade exaltando o aumento do crédito para a pecuária extensiva como se não tivesse qualquer relação com a ampliação do desmatamento, fazendo parecer possível criar boi embaixo da floresta.
Por seu turno os gestores públicos, no governo federal e em todos os nove governos estaduais, incentivam, treinam e motivam o produtor para preparar o projeto de financiamento do aumento do plantel na pecuária extensiva e receber o crédito do Basa, com a condição de jurarem não desmatar mais.
A nota de rodapé chave para selar o compromisso inusitado é que o aumento das cabeças de gado solto no pasto será possível graças à recuperação de áreas degradadas pela própria pecuária extensiva. Cruzes!
Óbvio que existe um componente eleitoral contraditório que faz com que o eleitor vote em quem defende o crédito para o produtor criar boi ao mesmo tempo em que também vota no candidato que é contra o desmatamento, como se não existisse vínculo científico entre um e outro.
Concluindo, em um cenário de excesso de subsídio, não será por força do mercado ou pela graça divina que o investimento na substituição da terra coberta por floresta e localizada próxima das rodovias por pasto deixará de aumentar.
Enquanto a defesa do agronegócio, no caso da Amazônia do agronegócio da criação extensiva de gado, se mostrar viável para os políticos ganharem votos e o retorno financeiro for atraente para o produtor, o desmatamento zero jamais será alcançado.
Alguns governos estaduais preferem defender às claras o pequeno e o grande produtor que investe na criação de gado onde antes havia uma floresta, outros fazem o mesmo de maneira camuflada.
E todos, sem entender que o mundo não vai aceitar a destruição da floresta na Amazônia, se esforçam para reduzir o tamanho da área de Reserva Legal e de outros tipos de florestas protegidas pelo Código Florestal.
Discutir o impacto do crédito público disponibilizado para pecuária extensiva na ampliação do desmatamento da Amazônia contribuirá de imediato para o desmatamento zero.
Crédito zero para criação de boi solto no pasto pode ser o ponto de inflexão que falta para o desmatamento zero na Amazônia!