Dos três vértices definidos pela teoria do Triangulo de Governo concebida pelo economista chileno Carlos Matus na década de 1970, o Projeto de Governo estabelece o rumo para engajar a sociedade e as forças políticas em uma estratégia de desenvolvimento específica para determinada região.

Considerado inovador e ousado o Projeto Florestania conseguiu angariar apoio esmagador de lideranças políticas no Acre e em Brasília, o que possibilitou a captação considerável de recursos orçamentários do governo federal em volume impossíveis de serem repetidos.

Contando com farta sustentação política local e abundante fonte de financiamento por meio de convênios em Brasília (indo além do Fundo de Participação do Estado, FPE), esperava-se que o Projeto Florestania consolidasse uma nova dinâmica econômica no Acre, elevando o PIB a um patamar superior sem ampliar o desmatamento e, o melhor, de maneira duradoura.

Mas, infelizmente, não foi o que aconteceu e a economia se manteve estagnada nos níveis alcançados pela pecuária extensiva no século passado. Sem surpresa positiva, o otimismo iniciado em 1999 cedeu ao desagrado e a fatura eleitoral foi cobrada em 2018 e continuou sendo em 2022.

Resumindo, os péssimos indicadores para economia acreana foram usados para explicitar o fracasso do Projeto Florestania, que, por sua vez, contribuiu para ressuscitar o antigo agronegócio da criação de boi solto no pasto, como se fosse alternativa para o desenvolvimento.

Um paradoxo acreano com certeza!

Uma série de contradições e alguns equívocos de interpretação fizeram com que a maioria das pessoas deixassem de enxergar o óbvio. Faltou ao Florestania senso de objetividade suficiente para priorizar a exploração da biodiversidade florestal enquanto modelo econômico de desenvolvimento.

Fazendo opção pela generalização, os líderes políticos responsáveis pela concepção do desenvolvimento defendido no Florestania, não se deram conta de que a transformação produtiva em direção a biodiversidade florestal dependia de determinação política para excluir o crédito público para a pecuária extensiva.

Enfim, não bastou aprovar a Lei 1.426 em dezembro de 2001, que instituiu a Política Estadual de Florestas posto que o Florestania deveria estimular uma estrutura de suporte ao desenvolvimento em que a energia elétrica, por exemplo, nas cidades com menos de 50 mil habitantes seria gerada em caldeiras movidas à queima de madeira e sobras de biomassa florestal.

Fácil imaginar o salto econômico fornecido pelo Florestania com a criação de emprego e renda através da rentável indústria de oferta de eletricidade a ser mantida com o manejo de área insignificante da biodiversidade florestal.

O segmento industrial de energia limpa prevê a substituição do motor à óleo diesel pela queima de biomassa em caldeiras, por isso sua participação na matriz de eletricidade encontra-se em franca expansão. E mais, reduzir a participação do petróleo na geração de energia permite acesso o novíssimo mercado de carbono.   

Porém, o receio de perder votos pesou e os líderes políticos fizeram a sociedade acreditar que o Projeto Florestania incentivaria a saída econômica pela biodiversidade e pelo gado, em que pese a impossibilidade científica para se produzir em um solo com e sem floresta, respectivamente.

Logo nos primeiros quatro de uma hegemonia que durou 20 anos, poucos insatisfeitos com a generalização do Florestania foram convencidos de que o detalhamento do modelo viria com o Zoneamento Econômico e Ecológico, ZEE. O que também, como se verá, não aconteceu.

Muito pelo contrário. De fato, com a aprovação da Lei 1.904 de 2007 que instituiu o ZEE no Acre, o agronegócio da pecuária extensiva ganhou expressiva e bem localizada área de terras cobertas com florestas, em especial ao longo das rodovias BR 364 e 317, para sua ampliação com o desmatamento legalizado.

Foi a partir daí que as contradições do Projeto Florestania evidenciaram o risco do seu fracasso enquanto modelo de desenvolvimento.

As consequências do pseudomodelo não tardariam a chegar. Seus defensores perderam tempo precioso a encontrar justificativas para as elevadas taxas de desmatamento, enquanto os líderes políticos do Florestania, por mais contraditório que possa parecer, recebiam queixas de perseguição aos produtores que desmatavam.

Enfim, deixando de fortalecer a vocação florestal do Acre ao mesmo tempo em que apoiava os pecuaristas às enrustidas, o Projeto Florestania se escudou no ZEE que deveria conciliar o impossível: criar mais boi sem destruir mais floresta.

Por isso, ao vislumbrar o fracasso em 2018, com a consagração eleitoral do Projeto de Governo que ressuscitou a pecuária extensiva, ninguém ousou defender o legado do Projeto Florestania.

Entretanto resta arguir até quando o Projeto Agronegócio sobreviverá à contradição ao paradoxo de plantar capim onde havia floresta sem aumentar o desmatamento!

É só esperar.     

xxxx